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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O CAMPO DO CURRÍCULO NO BRASIL

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. O Campo do Currículo no Brasil: os anos noventa. In: Currículo sem Fronteiras, v. 1, n. 1, pp.35-49, Jan/Jun 2001.

SÍNTESE

José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos

1 INTRODUÇÃO

Em seu artigo ‘O Campo do Currículo no Brasil: os anos noventa’, Antônio Fábio Barbosa Moreira apresenta a teorização em currículo, o ensino de currículo na universidade e a prática na escola, partindo da análise do discurso de vários curriculistas, apontando no final, uma a necessidade de uma discussão e uma revisão dos conteúdos e dos métodos empregados no ensino de currículo, nas instituições de ensino superior, no Brasil.
No citado artigo, o autor procurou identificar as perspectivas que os curriculistas possuem sobre o currículo, visando entender como são abordados os estudos de currículos, nos distintos espaços acadêmicos.

2 DESENVOLVIMENTO

O campo do currículo no Brasil desfruta hoje de visibilidade e prestígio crescentes.  Essa situação é resultante das discussões sobre as políticas oficiais de currículo, bem como às produções teóricas, que abordam novos temas e refletem novas influências. Tais produções, proporcionam que estudantes e professores melhor entendam como transformações e disputas culturais no currículo são representadas e como as identidades sociais são produzidas.
A produção brasileira sobre currículo recebe forte influência da literatura estrangeira. Para alguns especialistas, é necessário uma postura crítica frente a essa influência. Outros acham que essa influência é valiosa e que ainda vem sendo utilizada como base de apoio. Contudo, existem aqueles que alertam contra o encantamento em relação a determinada tendência ou a determinado autor, afirmando que essa atitude os transforma em ‘verdade’ e dificulta a análise de sua aplicabilidade à nossa realidade.
No entanto, ainda segundo nossos curriculistas, vem ocorrendo no Brasil uma multirreferencialidade direcionada para construções mais autônomas. Entretanto, observam também esses especialistas, que o livre intercâmbio de idéias, vem permitindo uma crítica mais apurada, enriquecendo a análise dos problemas específicos.
Nota-se que se faz cada vez mais indispensável o desenvolvimento de diferentes propostas e projetos, que constituam uma unidade descentrada, na qual variadas vozes se articulem em torno da oposição ao conservadorismo e ao autoritarismo cada vez mais presentes em nosso panorama educacional, oferecendo respostas críticas às persistentes perguntas do professorado sobre o que fazer em sala de aula.
Dificilmente as teorizações ajudarão a renovar a prática. Por outro lado, é possível que o incremento na produção teórica do campo talvez não esteja ainda produzindo os frutos esperados. E, não se deve aceitar de forma ingênua o que se produz no Primeiro Mundo como soluções aos problemas do currículo no Brasil.
Uma postura cosmopolita, que inclua tanto a abertura para outras experiências culturais, além da sensibilidade para outras vozes e saberes, parece ser a melhor resposta aos problemas do ensino do currículo no Brasil. No entanto, nosso campo ainda oscila entre o aproveitamento crítico de teorias estrangeiras e o esforço por uma produção mais autóctone, da qual continuaríamos carentes.
Segundo nossos especialistas, o currículo deve ser concebido como artefato cultural, como um campo de produção/reprodução de cultura, em torno da definição de conhecimento, exigindo-se assim, que nos cursos de currículo, vincule-se o processo curricular a desenvolvimentos culturais mais amplos, abrindo espaço para a crítica de diferentes manifestações culturais.
A variedade de temas, de influências e de áreas do conhecimento, que parece configurar alguns de nossos cursos sobre currículo, favorece uma compreensão mais acurada da educação no mundo e na sociedade. No entanto, passivamente, contribui para uma maior indefinição dos contornos do campo do currículo, dificultando a análise e o enfrentamento de questões específicas que afetam nossas escolas.
Na opinião de alguns especialistas, é preciso reformar os cursos de formação de professores, para que os mesmos possam ir para a escola mais instrumentalizados para construir uma prática pedagógica mais adequada aos alunos. Hoje, sabe-se que o conhecimento se constrói em rede. É essa idéia que precisa subsidiar os currículos da formação de professores, tendo-se em mente que a prática é construída com conhecimentos apontados por seu próprio desenvolvimento.
Contudo, se, por um lado, a ampliação de referenciais pode enriquecer a discussão das questões de currículo, facilitando a compreensão das mesmas, por outro, a diversidade de temas, autores e abordagens, que hoje caracteriza o ensino de Currículo, não propicia, necessariamente, o estabelecimento de elos mais significativos com situações e problemas vivenciados na prática.
A questão curricular não se reduz a simples problema técnico a ser resolvido por meio de modelos racionais: corresponde a um processo contínuo e complicado de desenho do ambiente escolar, um ambiente simbólico, material e humano constantemente em reconstrução e sua complexidade precisa ser abordada por teorizações complexas. Ela pode ser debatida teoricamente, mas o problema do currículo somente pode ser resolvido praticamente.
Segundo os especialistas em currículo, no Brasil, tem-se avançado na produção do conhecimento teórico sem, contudo, produzir modificações substantivas na prática. A questão do currículo é complexa. Na prática projetam-se elementos teóricos, mas não se pode compreendê-la somente recorrendo a tais elementos.
O conhecimento incide na ação como atributo do sujeito, não como algo que se dê à sua revelia. Daí a importância de se buscar compreender o que se passa em educação a partir da dinâmica das ações dos indivíduos e das ações sociais, a partir dos saberes e dos motivos dos sujeitos envolvidos na prática.
Contudo, nossos curriculistas, ao expressarem um compreensível desencanto em relação aos efeitos das teorizações nas escolas e salas de aula, indicam a necessidade de se repensar a articulação teoria-prática no campo do currículo de modo a facilitar o desenvolvimento da capacidade prática e da experiência teórica do professorado.

CONCLUSÃO

Os curriculistas precisam definir os alvos preferidos de suas preocupações, delimitando melhor os temas prioritários das investigações a serem realizadas. Uma visão muito ampla de currículo não permite distinguir entre âmbitos de ação que por vezes requerem lógicas diferençadas de intervenção.
Deve-se estimular o incremento de investigações que priorizem as ações que se passam nas escolas, visando a compreendê-las mais profundamente, bem como o estímulo ao diálogo entre os pesquisadores da universidade e a escola. É preciso que os profissionais envolvidos no trabalho com currículo, reflitam profundamente sobre suas situações individuais específicas e não simplesmente se preocupem em mudar as escolas.
Em síntese, é inadiável a discussão e a revisão dos conteúdos e dos métodos empregados no ensino de Currículo em nossas instituições de ensino superior. Tal revisão permitirá uma melhor formação de futuros docentes.


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